Quais são os únicos seres vivos potencialmente imortais da Terra? Errou feio quem colocou árvores ou tartarugas na resposta. Em condições ideais, são as humildes bactérias as únicas criaturas a não morrer. Se você der a esses micróbios comida à vontade e ambiente aconchegante, elas simplesmente se multiplicam sem parar, dividindo suas células únicas em novos “clones”. É claro que essa multiplicação leva à competição entre “mães” e “filhas” e muitas acabam morrendo, mas não há nada inevitável nisso. A morte, ao que tudo indica, é uma doença sexualmente transmissível.
Parece maluco, mas talvez seja a mais pura verdade. Os biólogos andam descobrindo que os eventos que levam à velhice e à morte não são um programa detalhado de autodestruição, tal como acontece com a programação genética que envolve o nascimento e o crescimento dos seres vivos complexos. Se eles estiverem certos, morrer seria só um efeito colateral um tanto desagradável da necessidade de se reproduzir com a ajuda de outro indivíduo da mesma espécie, num mundo de recursos limitados.
FAZENDO AS CONTAS
Ainda há dúvidas sobre o porquê de o sexo ter se tornado tão importante para os seres vivos. Mas, uma vez estabelecido, ele forçou os organismos, de certo modo, a “fazerem as contas” em relação à própria sobrevivência. (De forma inconsciente, é claro; o que parece controlar o mecanismo é apenas o sucesso ou fracasso reprodutivo de cada indivíduo.)
Num mundo sexual, a única chance de um bicho, planta ou fungo passar seus genes adiante é misturando-os com os de outro indivíduo. Acontece que não dá para fazer tudo ao mesmo tempo: o organismo precisa “decidir” quanta energia gastar para continuar vivo até achar um parceiro, e quanto dessa energia vale a pena investir no sexo e nos filhotes que virão a partir dele. Se a criatura em questão for relativamente indefesa e viver correndo de predadores, vale a pena se reproduzir logo e produzir ninhadas enormes, porque o risco de morrer antes disso é gigante. Por outro lado, se a espécie não tem inimigos naturais, compensa fazer tudo com mais calma.
Isso explica por que camundongos e ratos vivem pouquíssimo, enquanto bichos do mesmo tamanho, mas voadores (como aves e morcegos), chegam a demorar até 10 vezes mais para morrer de velhice, porque são presa menos fácil. O mesmo acontece com animais grandalhões, que quase nenhuma outra criatura consegue caçar, como baleias e elefantes. Ao mesmo tempo, as criaturas de vida longa têm muito menos filhotes, que demoram mais a crescer. O que acontece é que pelo menos alguns genes que favorecem o potencial reprodutivo na juventude também acabam conduzindo à morte na velhice, mas, como o indivíduo já deixou descendentes mesmo, a ação “ruim” deles não é barrada pela seleção natural. Aparentemente, não dá para ter uma coisa boa sem a outra coisa, ruim.
Alguns estudos, contudo, têm mostrado que é possível “enganar” o corpo e fazê-lo adiar o envelhecimento. Roedores e vermes submetidos a uma dieta de fome, por exemplo, ou com órgãos sexuais retirados, vivem muito mais – no caso de certos vermes, o equivalente a uma pessoa com uns 600 anos de idade. É como se o organismo “sentisse” que o ambiente está hostil e pouco favorável à reprodução (ou que não vai se reproduzir mesmo, no caso dos castrados) e dirigisse todas as energias à autopreservação. Já há cientistas falando em usar o conceito para tentar “engenheirar” a imortalidade humana ou, ao menos, aumentar drasticamente a nossa longevidade.
Sobreviva
1. Seja grande:
Bichos com tamanho corporal maior também tendem a viver mais tempo.
2. Não tenha inimigos:
Criaturas sem predadores podem envelhecer naturalmente mais devagar que presas fáceis.
3. Transe tarde:
Demorar para se reproduzir é outro remédio tiro e queda contra a velhice.
4. Coma pouco:
É a chamada restrição calórica. Sem ficar desnutrido, devore só o mínimo.
Apoptose é o nome dado à morte programada de células. Trata-se do único processo de senescência “deliberada” entre os seres vivos.